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Por que damos nomes de frutas às partes do corpo? A curiosa origem de expressões como "Batata da Perna"

Como metáforas visuais, a catacrese e a cultura popular transformaram maçãs e batatas em referências anatômicas brasileiras

Quando falamos em “maçã do rosto”, “maçã de Adão” ou “batata da perna”, estamos recorrendo a comparações tão antigas que já parecem termos técnicos. Mas de onde vieram esses nomes improváveis? A resposta envolve:

  • a figura de linguagem chamada catacrese, em que a língua “empresta” uma palavra conhecida quando falta um termo exato para algo novo;
  • a semelhança visual entre frutas e saliências do corpo;
  • e, às vezes, até lendas bíblicas.

1. Maçã do rosto

A saliência formada pelos ossos malares, logo abaixo dos olhos, ganhou esse apelido porque lembrava pequenos frutos arredondados. O latim malum (“maçã”) originou tanto “maçã” quanto “malar”, reforçando a associação linguística.

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2. Maçã (ou Pomo) de Adão

A protuberância laríngea que salta no pescoço – mais visível em homens – recebeu o nome de “pomo‑de‑Adão” a partir da ideia popular de que um pedaço do “fruto proibido” teria ficado preso na garganta do personagem bíblico. Da metáfora religiosa veio o batismo anatômico que persiste até hoje.

3. Batata da perna

Já a panturrilha virou “batata” pela forma arredondada e volumosa que lembra o tubérculo. Dicionários contemporâneos registram a equivalência – “batata da perna: panturrilha” – confirmando que o termo entrou no vocabulário corrente muito antes de existirem academias e exercícios de “tríceps sural”. Além disso, veículos de cultura popular reforçam a etimologia da comparação com o formato do legume.

Imagem batat-perna
Uma batata e uma mulher colocando a mão na panturrilha | Reprodução: Canva

Como essas metáforas viram “nomes oficiais”

Quando uma comparação se repete por séculos, a metáfora se desgasta e vira catacrese – não percebemos mais que é figura de linguagem. Assim, frutas acabam nomeando partes do corpo porque eram as imagens mais acessíveis para descrever formas, protuberâncias ou funções antes de a terminologia médica se popularizar.

Frutas no vocabulário anatômico mostram como a língua mistura ciência, religião e criatividade cotidiana. A próxima vez que alguém elogiar suas “maçãs do rosto” ou reclamar da “batata” dolorida depois da corrida, lembre‑se: você está praticando história da linguagem em tempo real!

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