Arlindo Cruz será homenageado com o lançamento da biografia “O Sambista Perfeito”, escrita pelo jornalista Marcos Salles, que detalha episódios pouco conhecidos da vida do cantor. Com lançamento marcado para 7 de julho em uma livraria da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, o livro traz 462 páginas baseadas em depoimentos de 120 pessoas, incluindo nomes como Maria Bethânia, Zeca Pagodinho, Regina Casé e familiares do artista.
A obra, que levou quatro anos para ser finalizada, reúne registros colhidos antes e depois do acidente vascular cerebral sofrido por Arlindo em 2017. Segundo o autor, em entrevista ao Gshow, o livro intercala momentos de emoção, como nos capítulos “Arlindo Cruz é Pop”, que aborda sua relação com Marcelo D2 e Rogê, e “O Legado de Arlindo Cruz”, com depoimentos de 45 amigos e parceiros. “Enfim, um livro para rir, para chorar e para pensar...”, declarou Salles.
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A infância do sambista é lembrada com passagens de sua trajetória no bairro de Piedade, no subúrbio do Rio de Janeiro, onde aprendeu a tocar cavaquinho aos seis anos. Arlindo integrou o grupo Fundo de Quintal e foi peça fundamental na revitalização do samba nos anos 1980. A relação do jornalista com o cantor começou em 1981, no Pagode do Cacique. Ao longo dos anos, a convivência aproximou Salles da família, especialmente após o convite de Babi Cruz, ex-esposa do músico, para escrever a biografia.
Entre os temas abordados, um dos capítulos mais delicados trata da dependência química enfrentada por Arlindo. O autor narra a luta do artista contra o uso de cocaína, com relatos colhidos antes do AVC, além de declarações da família e amigos. “Ele tentou parar algumas vezes. Se internou, tentou parar. Ele reconhecia isso, mas também entendia que era difícil”, contou Marcos. Segundo ele, o cantor havia praticamente abandonado o uso da substância pouco antes de sofrer o acidente em 2017.
O livro detalha como o vício em drogas, comum no meio musical durante os anos 1980, afetou diretamente a saúde e o cotidiano do cantor. Marcos Salles contextualiza que a presença da cocaína no ambiente artístico da época foi um fator agravante. “Nos anos 1980 houve uma entrada grande da droga na música e a cocaína penetrou de forma fácil no meio artístico”, explicou o autor, que procurou tratar o assunto com sensibilidade e responsabilidade ao longo do texto.
Arlindo Cruz é retratado também por sua generosidade e fidelidade às raízes culturais e religiosas. Segundo o autor, o músico tinha o hábito de compor diariamente e prezava pelas parcerias, mesmo sendo capaz de desenvolver as músicas sozinho. “Ele era fiel à sua religião, mas abraçando a todas, sem dar espaço para a intolerância”, afirmou Marcos, que destaca a importância do sambista como referência musical e como figura humana admirada por quem o conheceu de perto.
A biografia apresenta Arlindo como um artista que, apesar das dificuldades pessoais e de saúde, deixou um legado importante para a música brasileira. “Que um dia ele acorde e volte, pelo menos a falar com a gente”, diz o autor, encerrando com emoção o relato sobre a vida de um dos grandes nomes do samba. O livro deve alcançar não só os fãs do gênero, mas também leitores interessados nos bastidores da vida artística e nas complexidades humanas por trás da fama.